Nos mercados futuros
negociam-se direitos sobre alguma mercadoria ou objeto financeiro. No
Brasil, dentre as mercadorias negociadas destacam-se soja, café,
milho e boi gordo enquanto que dentre os ativos financeiros há
destaque para os contratos de DI 1 dia, dólar e Ibovespa.
Visando popularizar os mercados futuros, a BM&FBovespa disponibiliza contratos futuros mini de alguns desses ativos, como, por exemplo, o Ibovespa e o dólar comercial, que diferem dos contratos usuais pelo tamanho dos contratos, correspondendo a um percentual dos respectivos contratos padrões.
A utilização de
mercados futuros como proteção, ou hedge, tem papel de destaque.
Consideremos, a título de ilustração, o caso de um pequeno
exportador que pode estar preocupado com a possibilidade de uma
valorização da taxa de câmbio de real em relação ao dólar
comercial, no momento (futuro) em que está para receber dólares e
convertê-los para reais, que poderá ser tal que leve a um prejuízo
nos seus negócios - considerando-se todos os custos e riscos
envolvidos. Assim, ele poderia vender contratos futuros mini de taxa
de câmbio de reais por dólar comercial (que é baseado na cotação
de venda, divulgada pelo Bacen) visando se proteger ante a uma
eventual perda decorrente da queda na cotação futura da taxa de
câmbio de reais por dólar comercial. Os contratos futuros mini de
taxa de câmbio de reais por dólar comercial são negociados com
vencimentos mensais cotados em R$ por 1.000 (mil) US$,
com uma casa decimal.
O tamanho do contrato futuro mini de taxa de câmbio de reais por
dólar comercial é de US$
10,000.00. Desse
modo, o volume de cada contrato futuro mini de taxa de câmbio de
reais por dólar comercial é dado por R$/(1.000 x US$)
x US$ 10,000.00.
Ou seja, cada variação de R$ 1,00
na cotação do contrato futuro mini
de taxa
de câmbio de reais por dólar comercial
corresponde a uma
variação de R$ 10,00
na margem do
contrato. A data de vencimento e liquidação se dá no
primeiro dia útil do mês de vencimento do contrato
e o último dia de negociação é o dia útil anterior à data de
vencimento do contrato.
Utiliza-se o prefixo WDO
para se referir ao contrato futuro mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$). Os contratos são
disponibilizados com vencimentos em todos os meses, utilizando-se,
para cada mês, uma letra no código de negociação, para
referenciar o referido mês: Janeiro
(F), Fevereiro (G), Março (H), Abril (J), Maio (K), Junho (M), Julho
(N), Agosto (Q), Setembro (U), Outubro (V), Novembro (X) e Dezembro
(Z). Assim,
por exemplo, o contrato futuro mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$) com vencimento em julho
de 2016 é negociado com o código WDON16. Finalmente, as
negociações
ocorrem
nos dias úteis das
9:00h às 18:00h
A operacionalização
nos mercados futuros se dá através da utilização de margens, que
essencialmente são um percentual do valor da operação e que são
utilizadas como um mecanismo que oferece garantias de que os
compromissos serão honrados. As margens definem o grau de
alavancagem em um determinado mercado e variam de acordo com as
mercadorias e ativos financeiros, de modo a refletirem os riscos
associados.
Por exemplo, suponha
que o nosso pequeno exportador esteja para receber US$ 100,000.00 em
01/07/2016 e que em 17/06/2016 ele tivesse vendido 10 contratos
futuros mini de taxa de câmbio de R$/US$ (código WDON16) por R$
3.460,00 / (1.000,00 x US$). Assim, o volume financeiro resultante da
venda de 10 contratos futuros mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$),
teria sido de R$ 346.000,00. Por se tratar de um valor que virá a
ser recebido no futuro a cotação na data do vencimento poderá
estar abaixo (o que daria lucro para o vendedor) ou acima
(acarretando em prejuizo para o vendedor), uma margem inicial é
então requerida, em geral de 15%, que no caso seria de R$5.109,00
por contrato, o que significa uma alavancagem de 1 para 6,67. Ao
final de cada pregão, a BM&FBovespa determina o preço de ajuste
para cada contrato em aberto, sobre o qual será feito o ajuste
diário de todas as posições. No exemplo, o pequeno exportador
disponibilizaria R$ 51.090,00 como margem de garantia. Vale ressaltar
que títulos públicos federais e ações podem ser utilizados como
margem de garantia, mas neste caso ficam bloqueados.
O ajuste diário das
posições no dia em que é fechado o negócio se dá de acordo com a
fórmula abaixo:
AD t = (PA t – PO) ×
(10.000 US$) × n
onde: AD t = valor do
ajuste diário;
PAt = preço de ajuste
do dia;
PO = preço da
operação;
n = número de contratos.
O valor do ajuste
diário (AD t), calculado de acordo com a fórmula acima, se
positivo, é creditado ao comprador e debitado ao vendedor. Caso o
valor seja negativo, será debitado ao comprador e creditado ao
vendedor.
No caso de nosso
pequeno exportador, o preço de ajuste em 17/06/2016 foi de R$
3.439,2250 / (1.000 x US$), logo:
ADt = [R$ (3.439,2250 –
3.460,0000)/(1.000 x US$)] × (US$ 10,000.00) × 10 = -R$ 2.077,50.
Portanto, haveria um
crédito na conta margem (pois o pequeno exportador de nosso exemplo
está numa posição vendida), que passaria a ser (no dia 20/06/2016)
de R$ 53.167,50 (R$ 51.090,00 + 2.077,50), após o ajustamento. Uma
valorização de 4,07% na conta margem no dia 17/06/2016 (sem
considerar corretagens e outras taxas).
Já com relação às
posições em aberto, o ajustamento se dá de acordo com a fórmula:
AD t = (PA t – PA t–1)
× (10.000 US$) × n
onde: PA t–1 = preço
de ajuste do dia anterior.
Continuando o exemplo
do nosso pequeno exportador, no final do dia 20/06/2016 o preço de
ajuste foi de R$ 3.405,570/(1.000 x US$). Neste caso, o ajuste terá
sido de:
ADt = [R$ (3.405,5700 –
3.439,2250)/(1.000 x US$)] × (10.000 US$) × 10 = -R$ 3.365,50.
Portanto, haveria um
novo crédito na conta margem, que passaria a ser (no dia 21/06/2016)
de R$ 56.533,00 (R$ 53.167,50+
3.365,50) após o ajustamento. Uma valorização de 10,65% na conta
margem do dia 17/06/2016 ao dia 20/06/2016 (sem considerar
corretagens e outras taxas).
Na primeira hora de
negociação no dia de hoje (21/06/2016) o preço do contrato futuro
mini de R$/(1.000 x US$) alcançou a cotação mínima de R$
3.365,00. Se, por exemplo, este menor preço da primeira hora de hoje
vier a se confirmar como sendo a cotação de ajuste de hoje, então
o ajuste ao final do dia seria de:
ADt = [R$ (3.365,00 -
3.405,5700)/(1.000 x US$)] × (10.000 US$) × 10 = -R$ 4.057,00.
Portanto, haveria um
novo crédito na conta margem, que passaria a ser (no dia 22/06/2016)
de R$ 60.590,00 (R$ 56.533,00+
4.057,00) após o ajustamento. Assim, sob esta hipótese de se
verificar o preço de ajuste do dia de hoje como sendo igual ao menor
preço verificado na primeira hora de negociação de hoje, haverá,
então, uma valorização de 18,59% na conta margem do dia 17/06/2016
ao dia 21/06/2016 (sem considerar corretagens e outras taxas).
E assim por diante...
Em 01/07/2016 voltaremos a comentar
sobre esta operação deste pequeno exportador que vendeu 10
contratos futuros mini de R$/(1.000 x US$), analisando a trajetória de sua
operação.
O contrato futuro mini
de taxa de câmbio de R$/US$ poderia também ser utilizado como hedge
por um importador, que deseja se proteger ante a uma determinada
desvalorização do real em relação ao dólar comercial. Assim, um
importador assumiria uma posição reversa à apresentada neste post,
isto é, compraria contratos futuros mini de taxa de câmbio de
R$/(1.000 x US$) visando se proteger.
Finalmente, vale
observar que as informações contidas neste post são apenas estudos ou opiniões
pessoais e não representam, de maneira alguma, recomendações de
investimento, isentando o Paulo C. Coimbra's Blog de qualquer responsabilidade resultante da tomada de decisão financeira com base no conteúdo aqui apresentado.
Confira o aviso/disclaimer neste
blog.
2 comentários:
Excelente post, sr. Paulo. Claro, conciso e objetivo.
Fala Gustavo, tudo bem? Obrigado!
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