terça-feira, 21 de junho de 2016

Hedge com contratos futuros mini de taxa de câmbio de R$/US$



Nos mercados futuros negociam-se direitos sobre alguma mercadoria ou objeto financeiro. No Brasil, dentre as mercadorias negociadas destacam-se soja, café, milho e boi gordo enquanto que dentre os ativos financeiros há destaque para os contratos de DI 1 dia, dólar e Ibovespa.

Visando popularizar os mercados futuros, a BM&FBovespa disponibiliza contratos futuros mini de alguns desses ativos, como, por exemplo, o Ibovespa e o dólar comercial, que diferem dos contratos usuais pelo tamanho dos contratos, correspondendo a um percentual dos respectivos contratos padrões.

A utilização de mercados futuros como proteção, ou hedge, tem papel de destaque. Consideremos, a título de ilustração, o caso de um pequeno exportador que pode estar preocupado com a possibilidade de uma valorização da taxa de câmbio de real em relação ao dólar comercial, no momento (futuro) em que está para receber dólares e convertê-los para reais, que poderá ser tal que leve a um prejuízo nos seus negócios - considerando-se todos os custos e riscos envolvidos. Assim, ele poderia vender contratos futuros mini de taxa de câmbio de reais por dólar comercial (que é baseado na cotação de venda, divulgada pelo Bacen) visando se proteger ante a uma eventual perda decorrente da queda na cotação futura da taxa de câmbio de reais por dólar comercial. Os contratos futuros mini de taxa de câmbio de reais por dólar comercial são negociados com vencimentos mensais cotados em R$ por 1.000 (mil) US$, com uma casa decimal. O tamanho do contrato futuro mini de taxa de câmbio de reais por dólar comercial é de US$ 10,000.00. Desse modo, o volume de cada contrato futuro mini de taxa de câmbio de reais por dólar comercial é dado por R$/(1.000 x US$) x US$ 10,000.00. Ou seja, cada variação de R$ 1,00 na cotação do contrato futuro mini de taxa de câmbio de reais por dólar comercial corresponde a uma variação de R$ 10,00 na margem do contrato. A data de vencimento e liquidação se dá no primeiro dia útil do mês de vencimento do contrato e o último dia de negociação é o dia útil anterior à data de vencimento do contrato. Utiliza-se o prefixo WDO para se referir ao contrato futuro mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$). Os contratos são disponibilizados com vencimentos em todos os meses, utilizando-se, para cada mês, uma letra no código de negociação, para referenciar o referido mês: Janeiro (F), Fevereiro (G), Março (H), Abril (J), Maio (K), Junho (M), Julho (N), Agosto (Q), Setembro (U), Outubro (V), Novembro (X) e Dezembro (Z). Assim, por exemplo, o contrato futuro mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$) com vencimento em julho de 2016 é negociado com o código WDON16. Finalmente, as negociações ocorrem nos dias úteis das 9:00h às 18:00h

A operacionalização nos mercados futuros se dá através da utilização de margens, que essencialmente são um percentual do valor da operação e que são utilizadas como um mecanismo que oferece garantias de que os compromissos serão honrados. As margens definem o grau de alavancagem em um determinado mercado e variam de acordo com as mercadorias e ativos financeiros, de modo a refletirem os riscos associados.

Por exemplo, suponha que o nosso pequeno exportador esteja para receber US$ 100,000.00 em 01/07/2016 e que em 17/06/2016 ele tivesse vendido 10 contratos futuros mini de taxa de câmbio de R$/US$ (código WDON16) por R$ 3.460,00 / (1.000,00 x US$). Assim, o volume financeiro resultante da venda de 10 contratos futuros mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$), teria sido de R$ 346.000,00. Por se tratar de um valor que virá a ser recebido no futuro a cotação na data do vencimento poderá estar abaixo (o que daria lucro para o vendedor) ou acima (acarretando em prejuizo para o vendedor), uma margem inicial é então requerida, em geral de 15%, que no caso seria de R$5.109,00 por contrato, o que significa uma alavancagem de 1 para 6,67. Ao final de cada pregão, a BM&FBovespa determina o preço de ajuste para cada contrato em aberto, sobre o qual será feito o ajuste diário de todas as posições. No exemplo, o pequeno exportador disponibilizaria R$ 51.090,00 como margem de garantia. Vale ressaltar que títulos públicos federais e ações podem ser utilizados como margem de garantia, mas neste caso ficam bloqueados.

O ajuste diário das posições no dia em que é fechado o negócio se dá de acordo com a fórmula abaixo:

AD t = (PA t – PO) × (10.000 US$) × n

onde: AD t = valor do ajuste diário;
PAt = preço de ajuste do dia;
PO = preço da operação;
n = número de contratos.

O valor do ajuste diário (AD t), calculado de acordo com a fórmula acima, se positivo, é creditado ao comprador e debitado ao vendedor. Caso o valor seja negativo, será debitado ao comprador e creditado ao vendedor.

No caso de nosso pequeno exportador, o preço de ajuste em 17/06/2016 foi de R$ 3.439,2250 / (1.000 x US$), logo:

ADt = [R$ (3.439,2250 – 3.460,0000)/(1.000 x US$)] × (US$ 10,000.00) × 10 = -R$ 2.077,50.

Portanto, haveria um crédito na conta margem (pois o pequeno exportador de nosso exemplo está numa posição vendida), que passaria a ser (no dia 20/06/2016) de R$ 53.167,50 (R$ 51.090,00 + 2.077,50), após o ajustamento. Uma valorização de 4,07% na conta margem no dia 17/06/2016 (sem considerar corretagens e outras taxas).

Já com relação às posições em aberto, o ajustamento se dá de acordo com a fórmula:

AD t = (PA t – PA t–1) × (10.000 US$) × n

onde: PA t–1 = preço de ajuste do dia anterior.

Continuando o exemplo do nosso pequeno exportador, no final do dia 20/06/2016 o preço de ajuste foi de R$ 3.405,570/(1.000 x US$). Neste caso, o ajuste terá sido de:

ADt = [R$ (3.405,5700 – 3.439,2250)/(1.000 x US$)] × (10.000 US$) × 10 = -R$ 3.365,50.

Portanto, haveria um novo crédito na conta margem, que passaria a ser (no dia 21/06/2016) de R$ 56.533,00 (R$ 53.167,50+ 3.365,50) após o ajustamento. Uma valorização de 10,65% na conta margem do dia 17/06/2016 ao dia 20/06/2016 (sem considerar corretagens e outras taxas).

Na primeira hora de negociação no dia de hoje (21/06/2016) o preço do contrato futuro mini de R$/(1.000 x US$) alcançou a cotação mínima de R$ 3.365,00. Se, por exemplo, este menor preço da primeira hora de hoje vier a se confirmar como sendo a cotação de ajuste de hoje, então o ajuste ao final do dia seria de:

ADt = [R$ (3.365,00 - 3.405,5700)/(1.000 x US$)] × (10.000 US$) × 10 = -R$ 4.057,00.

Portanto, haveria um novo crédito na conta margem, que passaria a ser (no dia 22/06/2016) de R$ 60.590,00 (R$ 56.533,00+ 4.057,00) após o ajustamento. Assim, sob esta hipótese de se verificar o preço de ajuste do dia de hoje como sendo igual ao menor preço verificado na primeira hora de negociação de hoje, haverá, então, uma valorização de 18,59% na conta margem do dia 17/06/2016 ao dia 21/06/2016 (sem considerar corretagens e outras taxas).

E assim por diante...

Em 01/07/2016 voltaremos a comentar sobre esta operação deste pequeno exportador que vendeu 10 contratos futuros mini de R$/(1.000 x US$), analisando a trajetória de sua operação.

O contrato futuro mini de taxa de câmbio de R$/US$ poderia também ser utilizado como hedge por um importador, que deseja se proteger ante a uma determinada desvalorização do real em relação ao dólar comercial. Assim, um importador assumiria uma posição reversa à apresentada neste post, isto é, compraria contratos futuros mini de taxa de câmbio de R$/(1.000 x US$) visando se proteger.

Finalmente, vale observar que as informações contidas neste post são apenas estudos ou opiniões pessoais e não representam, de maneira alguma, recomendações de investimento, isentando o Paulo C. Coimbra's Blog de qualquer responsabilidade resultante da tomada de decisão financeira com base no conteúdo aqui apresentado. Confira o aviso/disclaimer neste blog.